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domingo, 20 de janeiro de 2013

A Sereia e o Lua

Nas últimas duas semanas a Rede Globo apresentou uma de suas melhores produções anuais:as mini séries.
Geralmente um tanto independentes dos padrões globais cotidianos apresentam-se como biscoitos finos para o grande público que não tem acesso,por exemplo à tv por assinatura.

A primeira mini série,O Canto da Sereia,inspirada no romance noir do grande Nélson Mota me chamou a atenção por conta do argumento inusitado:uma estória dark em plena Salvador carnavalesca e solar...Tratou-se de uma obra honesta,embalada pelos esforços sinceros da bela Ísis Valverde,doce,sensual e trágica,que representou a protagonista da trama,a tal da Sereia,uma cantora de trio elétrico,assassinada em pleno carnaval de rua de salvador,em cima de um trio elétrico.

Infelizmente a estória pareceu ter sofrido alguma censura pelas elites interessadas em impedir a divulgação dos bastidores em torno da indústria da música baiana,da máfia da publicidade e,claro,da política.

Não bastasse uma campanha feita pelos evangélicos,que recomendavam o seu boicote,por entender que a obra divulgava a "macumba"(sic)e o homossexualismo,a mini série também foi pouco divulgada.

O Canto da Sereia,por si só,estimularia reflexões a respeito da indústria da música na Bahia,que há décadas são protagonizadas,suspeitamente,pelos mesmos nomes de sempre:Ivete Sangalo,Chiclete com Banana,Asa de Águia ,Banda Eva,Daniela Mercury e Claudia Leite monopolizam a arte e os lucros da indústria milionária do turismo baiano...

Tal prática impede o surgimento de qualquer talento transformador.Perdem a arte da região e do Brasil.Como um lugar como a Bahia que deu ao Brasil talentos que vão de Gregório de Matos a João Gilberto,de Castro Alves a Raul Seixas,de Caetano Veloso a Marcelo Nova e até mesmo da própria Ivete Sangalo à roqueira Pitty não consiga revelar mais talentos há mais de vinte anos?

Em O Canto da Sereia,apesar da ousadia da protagonista que peitava políticos na rua,não se mencionou nada a respeito das regras do jogo que mantém este estado das coisas há anos...

Como diria o Gregório de Matos:"Triste Bahia...."Triste cultura brasileira!

Não pense em um dia cantar em um trio elétrico ou em fazer uma nova arte.A máfia da música baiana monopolizou todos
os "cantos":os da cidade ou os de qualquer sereia.


 ***
De Pai Para Filho

O Canto da Sereia passou e foi sucedida por outra mini série que aparentemente versava sobre cultura e música também do nordeste."Gonzaga-de Pai para Filho" foi isto e mais por ter girado em torno da relação difícil entre um pai e um filho.Embora a obra tenha sido uma adaptação da biografia do grande rei do baião,Luiz Gonzaga e de seu filho adotivo Gonzaguinha,em essência se caracterizou por mostrar a verdade.As caracterizações do jovem Luiz Gonzaga,do Luiz Gonzaga aos 70 anos e,principalmente do Gonzaguinha impressionaram.

A mini série foi retirada do filme "Gonzaga,de Pai para Filho",que merece a sua audiência propiciou fazermos reflexões pertinentes à familia,ao amor paternal,ao respeito,à questão do papel da mulher e à sua emancipação,dentre outros temas e as suas metamorfoses ao longo dos últimos 50 ou 70 anos.

Luiz Gonzaga,doce e sensível vive em uma época,o século XX,de transformações de costumes.Umas boas,como a da emancipação feminina,representada na figura da mãe do Gonzaguinha,uma dançarina que gostava da noite e que aceitou viver com o jovem sanfoneiro em início de carreira.Representada pela atual protagonista da novela das oito(Salve Jorge),Nanda Costa,em ótima atuação,a mulher reafirma a sua vontade em querer continuar a sua vida de boemia,apesar de casada.Mais:o seu filho não é de Luiz, é dela!Ela diz!Enfim,uma mulher forte,de personalidade.Que existiu e nos deu um dos maiores artistas da MPB,o Gonzaguinha.
Em ótima atuação,Nanda Costa representa uma
mulher que viveu a sua vida de seu jeito,sem
precisar de feminista nenhuma.

Apesar de conservador e patriarcal(É bem conhecido o seu amor e respeito pelo pai,Januário),Luiz Gonzaga aceita o filho.O seu conflito com o Gonzaguinha só se explica por sua ausência na criação do menino,por conta de sua vida de artista.Nunca pela falta de amor.Além do mais Gonzaguinha é nitidamente um jovem inteligente e contestador.Só vai entender o pai quando também se torna um artista de sucesso.

A mini série Gonzaga tem uma bela fotografia e nos faz refletir a respeito do papel do amor,da honra familiar e da flexibilidade diante das mudanças(sejam elas boas ou ruins)da sociedade.

O mundo pode evoluir,mas não precisamos abrir mão do amor e do respeito,assim como devemos sempre estar atentos aos anseios e necessidades de nossos entes queridos.Apesar de ter sido doce e respeitador,Luiz Gonzaga  teve que cumprir o seu carma diante de mulheres fortes e de um filho que o amava tanto que o fez,certamente,refletir a respeito do amor paternal e a sua prática nestes tempos contemporâneos...
Gonzaguinha&Gonzagão na vida real.Conflitos,música e
um amor cármico.

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